segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Poesias de Eugénio Tavares

                                          Eugénio Tavares


Eugénio Tavares foi a figura cimeira da vida cultural, política e social de Cabo Verde entre 1890 e 1930. Durante essas 3 décadas, ele dominou em todas as áreas a cultura do seu povo tendo sido o seu maior interprete até aos nosso dias. A sua vastissíma obra vai da poesia à música, da retórica à ficção, passando pelos ensaios. Durante a festa da língua portuguesa em Sintra, Corsino Fortes, poeta e antigo embaixador de Cabo Verde em Portugal, intitula-o de "Camões de Cabo Verde" e realça Eugénio Tavares de fazedor de opinião numa enorme dimensão de pensador. 


                             

                            Partindo

 

Triste, por te deixar, de manhãzinha

Desci ao porto. E logo, asas ao vento,

Fomos singrando, sob um céu cinzento,

Como, num ar de chuva, uma andorinha.

 

Olhos na Ilha eu vi, amiga minha,

A pouco e pouco, num decrescimento,

Fugir o Lar, perder-se num momento

A montanha em que o nosso amor se aninha.

 

Nada pergunto; nem quero saber

Aonde vou: se voltarei sequer;

Quanto, em ventura ou lágrimas, me espera

 

Apenas sei, ó minha Primavera,

Que tu me ficas lagrimosa e triste.

E que sem ti a Luz já não existe.

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/eugenio_tavares.html

Canção ao Mar (Mar Eterno)


Canção ao Mar (Mar Eterno)

Eugénio Tavares

Oh mar eterno sem fundo sem fim

Oh mar das túrbidas vagas oh! Mar

De ti e das bocas do mundo a mim

Só me vem dores e pragas, oh mar

Que mal te fiz oh mar, oh mar

Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar

Quebrando as ondas tuas

De encontro às rochas nuas

Suspende a zanga um momento e escuta

A voz do meu sofrimento na luta

Que o amor ascende em meu peito desfeito

De tanto amar e penar, oh mar

Que até parece oh mar, oh mar

Um coração a arfar, a arfar

Em ondas pelas fráguas

Quebrando as suas mágoas

Dá-me notícias do meu amor

Que um dia os ventos do céu, oh dor

Os seus abraços furiosos, levaram

Os seus sorrisos invejosos roubaram

Não mais voltou ao lar, ao lar

Não mais o vi, oh mar

Mar fria sepultura

Desta minha alma escura

Roubaste-me a luz querida do amor

E me deixaste sem vida no horror

Oh alma da tempestade amansa

Não me leves a saudade e a esperança

Que esta saudade é quem, é quem

Me ampara tão fiel, fiel

É como a doce mãe

Suavíssima e cruel

Nas mágoas desta aflição que agita

Meu infeliz coração, bendita!

Bendita seja a esperança que ainda

Lá me promete a bonança tão linda!


https://recantodasletras.com.br/poesias-goticas/7049264


Até amanhã



Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.


https://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=7855


Força de Crecheu


Ca tem nada na es bida
Mas grande que amor
Se Deus ca tem medida
Amor inda é maior.
Maior que mar, que céu
Mas, entre tudo cretcheu
De meu inda é maior

Cretcheu más sabe,
É quel que é di meu
Ele é que é tchabe
Que abrim nha céu.
Cretcheu más sabe
É quel qui crem
Ai sim perdel
Morte dja bem  

Ó força de chetcheu,
Que abrim nha asa em flôr
Dixam bá alcança céu
Pa'n bá odja Nôs Senhor
Pa'n bá pedil semente
De amor cuma ês di meu
Pa'n bem dá tudo djente
Pa tudo bá conché céu

https://www.eugeniotavares.org/docs/pt/obra/mornas.html


Morna de despedida

Hora de bai, Hora de dor, Ja’n q’ré Pa el ca manchê! De cada bez Que ’n ta lembrâ, Ma’n q’ré Ficâ ’n morrê! Hora de bai, Hora de dor! Amor, Dixa’n chorâ! Corpo catibo, Bá bo que é escrabo! Ó alma bibo, Quem que al lebado? Se bem é doce, Bai é maguado; Mas, se ca bado, Ca ta birado! Se no morrê Na despedida, Nhor Des na volta Ta dano bida. Dicham chorâ Destino de home: Es dor Que ca tem nome: Dor de crecheu, Dor de sodade De alguem Que’n q’ré, que q’rem... Dicham chorâ Destino de home, Oh Dor Que ca tem nome! Sofrí na vista Se tem certeza, Morrê na ausencia, Na bo tristeza!


file:///C:/Users/ALUNO/Downloads/Dialnet-APoeticaDasMornasDeEugenioTavares-6160262.pdf









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